Não
vou escrever sobre detalhes do movimento cívico-militar de 1932, uma verdadeira
guerra civil que uniu gente de todas as classes sociais contra o governo
central ditatorial de Getúlio Vargas. Proponho reflexão sobre o seu
significado, o motivo que mobilizou grande parte da população de São Paulo e do
sul do Estado do Mato Grosso: homens, mulheres e muitos jovens, inclusive
adolescentes como o escoteiro Aldo Quioratto que morreu como mensageiro a
serviço da causa revolucionária em bombardeio na cidade de Campinas.
Vários
depoimentos e registros oficiais dão conta de que, apesar da existência de uma
oligarquia estadual inconformada com a perda do poder, depois de décadas de
monopólio do governo central em revezamento entre São Paulo e Minas Gerais, o
ideal que congregou milhares de voluntários não foi a simples tomada de poder,
muito menos uma “independência de São Paulo” - ainda que houvesse uma minoria
que a defendesse - mas acima de tudo o restabelecimento de um Estado
Democrático de Direito, com a promulgação do seu símbolo maior: uma legítima
Constituição Federal.
São Paulo, assim como outros Estados, vivia
sob o governo de interventor federal, nomeado por Getúlio Vargas ao assumir provisoriamente
o governo brasileiro, vitorioso na Revolução de 1930. Reforçando o conflito com
São Paulo, o ditador dissolveu o congresso nacional e também o legislativo
estadual e municipal.
Insatisfeitos, os paulistas
realizaram uma grande campanha, envolvendo jornais e rádios, conseguindo
mobilizar grande parte de sua população: apresentaram-se mais de 200.000
voluntários. Desses, 35.000 lutaram durante três meses (de 09 de julho a 02 de
outubro) contra o exército organizado pelo governo ditatorial, que contou com
100.000 homens. Os paulistas ficaram praticamente isolados pela propaganda
ideológica que acusava o Estado de São Paulo de estar nas mãos do fascismo
italiano (trazido pelos imigrantes) e que o motivo da revolta seria a separação
do Brasil.
Apesar
da prova de coragem dos voluntários - junto com o efetivo da Força Pública - em
uniformes de cor cáqui e capacetes de aço, foi assinada a rendição diante do
exaurimento bélico, selando-se a paz. Seguiram-se prisões, cassações e
deportações ao fim do último grande conflito armado no país. Estatísticas
confirmam 830 mortos; mas, estima-se que milhares de brasileiros perderam a
vida e outros muitos foram feridos defendendo princípios democráticos. Apesar
de derrotados nas armas, os paulistas alcançaram seu objetivo principal na
medida em que no ano seguinte foi instalada a assembléia constituinte,
promulgando-se uma Constituição Federal em 1934 com várias garantias, entre
elas o voto feminino até então inexistente. Por isso, afirma-se que a Revolução
Constitucionalista obteve vitória moral.
A
data de 09 de julho, feriado no Estado de São Paulo (em virtude da Lei Estadual
9.497, de 1997), representa uma oportunidade para rememorar o legado dessa
história de civismo, de patriotismo e de defesa dos valores democráticos
materializados na Constituição. Não por acaso, jovens como Martins, Miragaia,
Dráusio e Camargo - cujas mortes em 23 de maio na Praça da República inspiraram
a sigla e a senha do Movimento (M.M.D.C.) - lançaram-se à luta portando a
bandeira paulista oficializada na mesma época com o mapa do Brasil em destaque
acima das treze listras.
Podemos
afirmar aos poucos Veteranos ainda vivos, hoje com bem mais de 90 anos, que o
seu esforço não foi em vão. No seu exemplo encontramo-nos como paulistas e acima
de tudo brasileiros defendendo um país melhor.
Depois de oito décadas de relatos de
heroísmo na defesa de um ideal que mobilizou tanta gente, vivemos em uma
democracia consolidada, apesar do pouco exercício de cidadania e mesmo da falta
de uma consistente educação política. E ainda almejamos justiça social,
equilíbrio na distribuição de renda e de oportunidades, melhores condições de
vida para todos os cidadãos; enfim, queremos o fiel cumprimento dos mandamentos
constitucionais em um país forte e unido.
Major
PM Subcomandante do 32º BPM/I
(Região
de Assis/SP)
Maj PM Adilson Nassaro
ResponderExcluirParabéns pelo artigo sobre a Revolução de 32. Foi uma verdadeira aula para todos nós. Um grande abraço,
Cel Res PM - Dorival Prestes Ascencio Prado
dorivalprado@hotmail.com
Sr. Cel Dorival: conte conosco. Visite-nos sempre! Sucesso.
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